Contribuição financeira do programa LIFE da União Europeia
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O Município do Barreiro apresentou a candidatura do Projeto Biodiscoveries – Invasive species control through public participation ao Programa LIFE+ (componente Natureza e Biodiversidade), uma iniciativa da Comissão Europeia, reforçando a sua estratégia de valorização e conservação do património natural do concelho.

Esta candidatura foi aprovada em 2014, tendo-se iniciado os respetivos trabalhos em julho, sendo a duração do projeto de cinco anos.

O projeto Biodiscoveries (LIFE13 BIO/PT/000386) apresenta como objetivo o controlo de espécies invasoras na Mata Nacional da Machada e Sapal do Rio Coina, espaços que constituem a Reserva Natural Local do Barreiro. A sua característica distintiva, relativamente a outros projetos semelhantes, é a integração do voluntariado, que procurando criar laços duradouros entre as pessoas, o combate às invasoras e a gestão do património natural.

Procurou-se uma alternativa aos modelos tradicionais de controlo de invasoras, tendo em conta a experiência acumulada em muitos outros projetos. Esta opção prende-se com a convicção de que os recursos envolvidos e o tempo necessário para manter um programa de controlo de invasoras, que seja eficaz, é dificilmente compatível com os recursos públicos disponíveis.

Desta forma, propõe-se um programa misto de intervenção, com uma componente pública e forte apoio em programas de voluntariado que permitam transformar cada munícipe num agente de controlo de invasoras e tendo um volume de mão-de-obra importante que se prolonga no tempo.

Pretende-se dar preferência a técnicas mais ligeiras de intervenção. Por exemplo, o descasque de árvores será preferencial sobre o corte com motosserras, o arranque de plantas novas será preferencial sobre o uso de químicos, de modo a tirar partido da disponibilidade dos grupos de voluntários, diminuindo as técnicas que exigem maior preparação profissional ou que envolvem maiores riscos.

O projeto permitirá verificar se este modelo de intervenção consegue uma melhor relação custo-benefício, tanto na alocação de recursos, como do ponto de vista ambiental, mas também no envolvimento social num dos mais complexos problemas de conservação da natureza.

OBJETIVOS

Especialmente na Mata da Machada, mas também de forma pontual no Sapal do Coina, existe uma forte invasão de várias espécies de acácias (Acacia sp). Adicionalmente também aqui encontramos, embora de forma menos agressiva, chorão-da-praia (Carpobrotus edulis).

O principal objetivo do projeto é o controlo destas espécies invasoras, desencadeando uma dinâmica social de mobilização de voluntários, que no futuro se sustentará, com o apoio consistente, mas limitado, da gestão da Reserva Natural Local.

Os voluntários farão a adoção de talhões, nos quais ficarão responsáveis pelo controlo das invasoras. Estima-se uma área total de talhões com cerca de 20 hectares (pouco menos de 10% da área total da Mata) e que representam cerca de metade da área com invasão mais grave de acácias. Pretende-se que todos os talhões sejam adotados por munícipes e instituições de diferentes contextos.

Pretende-se também ter os principais pontos de invasão de espécies invasoras intervencionados. Intervencionados não significa controlados, dado que a duração de um projeto LIFE não é suficiente para um resultado duradouro nesta área. 

Procurar-se-á obter conclusões sobre a realização de diferentes intervenções de voluntariado: os níveis e modelos de ação para cada tipo de grupo, a motivação permanente dos voluntários, a forma de captar os voluntários, a capacidade contínua para agir, entre outros aspetos.

Este projeto vai igualmente testar as dificuldades e vantagens no uso de pequenos ruminantes no controlo das acácias. Não sendo de esperar que a sua utilização seja vantajosa no controlo de chorões, será feito um pequeno teste.

Finalmente, previu-se também que alguns trilhos já existentes na Mata da Machada poderão ser beneficiados, em resultado das intervenções programadas no projeto.

De forma transversal a todo o projeto, será promovido um programa de comunicação e disseminação, que permita divulgar e replicar os resultados bem sucedidos.

AÇÕES PREVISTAS

Para a execução do presente projeto estão previstas as seguintes ações:

  • Ação preparatória: consiste na elaboração do Plano de Intervenção que permitirá distinguir as áreas a adotar de acordo com as suas características, identificando áreas prioritárias de intervenção técnica e áreas mais favoráveis à intervenção de grupos de voluntários, classificando-as de acordo com a sua adequabilidade aos diferentes grupos (adultos, reformados, crianças, empresas).
  • Ações iniciais de remoção de invasoras: correspondem à intervenção mais técnica de combate às invasoras, incluindo as várias técnicas correntes como o corte, com ou sem utilização de arbusticida, e o arranque. Estas ações mais especializadas visam também preparar a entrada dos voluntários na gestão de núcleos de invasoras, através de uma primeira intervenção, com frequência mais pesada e necessitando de maquinaria, deixando assim o terreno preparado para o trabalho dos voluntários.
  • Gestão de invasoras com recurso a voluntariado: em função da natureza dos grupos de voluntários, pretende-se levar à adoção de talhões por um grupo que se responsabiliza por áreas concretas de erradicação (prolongando-se para além do horizonte do projeto), apoiado pela equipa técnica do projeto e pela gestão da área protegida.
  • Ações de recuperação dos habitats das áreas intervencionadas: com o objetivo de moldar e conduzir a regeneração natural, que está presente na área do projeto com intensidade suficiente. Complementarmente serão também feitas intervenções de pequena escala para aumentar a velocidade de recuperação da vegetação das linhas de água, essencialmente através de plantação por estaca de espécies adaptadas a estas situações (salgueiros e freixos, sobretudo), bem como o mesmo tipo de intervenção com estacas de salgueiro no limite das áreas de sapal, nas áreas de caniçal com menores teores de sal.
  • Ensaios do uso do pastoreio dirigido no controlo de invasoras: terão lugar com caráter experimental, através da contratação de serviços de pastoreio dirigido, previsivelmente a partir do fim do segundo ano, no sentido de avaliar a eficácia do uso de cabras no controlo de exóticas.
  • Ações de comunicação e disseminação de resultados: com o objetivo de promover a sensibilização do público para a problemática das invasoras através da produção de diferentes suportes de comunicação (folhetos, painéis informativos, entre outros), e com objectivo de partilhar experiências e divulgar os resultados obtidos, através da realização de seminários técnicos, fora e conferências.
  • Ações de monitorização do projeto: que incluem a monitorização de resultados da remoção das invasoras e da recuperação dos habitats das áreas intervencionadas, mas também a monitorização do impacto socioeconómico do projeto.

RESULTADOS/PROGRESSO DO PROJETO

Desde julho de 2014 que o CEA desenvolve o Projeto Biodiscoveries, com o objetivo de controlar espécies invasoras (acácia e chorão-da-praia), na Reserva Natural Local do Barreiro. Estas espécies ocupavam respectivamente 44 e 26 hectares, no início do projecto, na área total de 380 hectares da RNL.

Este projeto assenta na participação pública e o público integra o projecto, tanto em acções esporádicas como regularmente, através da adopção de talhões.

O projecto prevê que seja feita uma monitorização dos resultados de remoção de invasoras e uma monitorização da recuperação dos habitats das áreas intervencionadas.
Veja aqui os resultados.

INVASORAS

Muitas das espécies que nos rodeiam foram trazidas do seu habitat natural para outros locais. São referidas como exóticas (do grego do grego exotikós, “de fora”), e enquanto algumas conseguem coabitar em harmonia com as espécies nativas, outras desenvolvem-se de forma descontrolada e tornam-se prejudiciais para a biodiversidade existente. As espécies exóticas são transversais a qualquer grupo de seres vivos (por exemplo, o lagostim-vermelho, o escaravelho-vermelho-das-palmeiras, o fungo-da-ferrugem ou a erva-da-fortuna).

O desequilíbrio provocado por plantas invasoras em alguns ecossistemas é tão grave, que pode pôr em risco outras espécies. A vantagem competitiva destas plantas está relacionada com os seguintes aspetos:

  • Geralmente são plantas que produzem muitas sementes, que são viáveis por longos períodos de tempo;
  • As suas sementes podem ser estimuladas pelo fogo;
  • Competem mais eficientemente pelos recursos disponíveis do que as espécies nativas;
  • Normalmente não contam com a presença dos seus inimigos naturais.

Relativamente aos impactes da expansão de espécies invasoras, estes revelam-se ao nível da biodiversidade como já referido, mas também têm efeitos económicos devido aos elevados custos associados ao seu controlo, efeitos na saúde pública e na disponibilidade de recursos naturais, provocando também alterações na estrutura da paisagem.

Na Mata da Machada existem duas espécies invasoras mais problemáticas: as acácias (Acacia sp.) e o chorão-da-praia (Carpobrotus edulis). O problema principal são as acácias, seja pelo facto de serem mais agressivas, sobretudo após fogo, seja pela sua coincidência ou proximidade com áreas de maior interesse florístico, e ainda pela maior dificuldade de erradicação.

Na área de intervenção do projeto podemos encontrar as seguintes espécies de acácias:

  • Acacia dealbata (Mimosa) 
  • Acacia longifolia (Acácia-de-espigas)
  • Acacia mearnsii (Acácia-negra)
  • Acacia melanoxylon (Acácia-austrália)
  • Acacia pycnantha
  • Acacia retinodes (Acácia-virilda)
  • Acacia saligna